Por Felipe Feliciani –
Biólogo, MBA em Desenvolvimento Sustentável, Coordenador Técnico do Núcleo
Caetê, Co-fundador da Mboé-Conscientização Ambiental
As rodovias, artérias de uma
sociedade em desenvolvimento, canais de escoamento de pessoas e produtos,
trilhos de uma era de asfalto e velocidade! Não vou questionar, nesse artigo,
os prós e contras da adoção dessa forma de transporte em nosso país, o que me
incomoda é mais denso, mais sombrio, mais triste e muito mais emergencial.
É nesse contexto que minha
preocupação toma corpo. O resultado da equação que envolve, rodovias, alta
velocidade, fragmentos florestais e animais silvestres, é extremamente
inquietante!
O processo de duplicação e
recapeamento que ocorreu em diversas rodovias da nossa região, as quais cruzam
importantes áreas verdes, resultou em um aumento notável da velocidade dos
veículos que por ali trafegam, o que aumenta em muito a possibilidade de
atropelamentos. Infelizmente, nas últimas semanas, observei alguns animais
vitimados, fato esse que me motivou a juntar algumas informações e percepções,
a fim de reavivar essa discussão acerca desse tema.
De acordo com o Centro Brasileiro
de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), da Universidade Federal de Lavras,
desde o primeiro dia desse ano até o dia 09 de agosto de 2015, mais de 286
milhões de atropelamentos de animais silvestres já haviam sido registrados no
país, uma média estarrecedora de aproximadamente 15 animais atropelados por
segundo. Isso levando-se em consideração apenas os dados registrados nesse
sistema, através do aplicativo colaborativo Urubu, no qual pessoas que
encontram os animais atropelados, enviam os dados para do CBEE, com informações
e localização do incidente, os dados são validados e compõem esse gigantesco
banco de dados. São diversos os registros em nossa região: cachorros-do-mato,
bugios, saguis, corujas, jiboias, gambás, lebres, capivaras, entre outros. No
ano de 2014, os atropelamentos de animais silvestres registrados por esse
sistema atingiram a quase inacreditável marca de 473 milhões de animais mortos.
Em outro levantamento realizado
pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas, realizado em três trechos de rodovias
da região central do Brasil (que totalizavam aproximadamente mil quilômetros de
extensão), por dez meses, foram encontradas 1124 carcaças de animais de médio e
grande porte atropelados, de 25 espécies diferentes.
Segundo o Banco de Dados
Brasileiro de Atropelamentos de Animais Silvestres (BASF), coordenado pelo
CBEE, são nas rodovias do Estado de São Paulo que se registra a maior
quantidade de mortes de animais silvestres por atropelamentos em nosso país.
Vale a pena destacar que a fauna
silvestre é essencialmente importante na promoção da polinização de culturas e
da vegetação, na dispersão de sementes, na ciclagem e movimentação de
nutrientes, e no controle biológico.
Muitas são as estratégias
possíveis de se utilizar na busca por uma melhoria nesse preocupante cenário,
políticas públicas específicas, investimento advindos das concessionárias,
campanhas de conscientização e educação ambiental de motoristas, investimentos
em infraestrutura para passagens subterrâneas e aéreas, enfim, diversas formas
que precisam e devem ser colocadas em prática o quanto antes. Porém, enquanto
tudo isso é discutido, especulado e planejado, diante dos números que temos
acessos acerca do tema, tenhamos mais cuidado nas nossas travessias,
principalmente durante o amanhecer e o entardecer, são os momentos em que os
animais se deslocam com maior frequência. Em casos de avistamentos de animais
atropelados, avise as autoridades competentes (DER, Polícia Militar Ambiental,
Corpo de Bombeiros ou Concessionárias), em alguns casos os animais ainda podem
ser resgatados, porém torna-se extremamente necessária a criação de um Centro
de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres em nossa região, para que os
animais resgatados tenham um local para serem encaminhados e tratados, em atenção a essa demanda, foi criada uma
petição pública (link abaixo) solicitando as Administrações Municipais do
Circuito das Águas Paulista que sejam dados os devidos encaminhamentos para a
obtenção de um espaço dessa importância na região. Essas atitudes não são
benéficas apenas para os animais silvestres, refletem diretamente na sua
segurança e na de seus passageiros!
Pense nisso!